O listão de hoje é sobre carros esportivos brasileiros. Atualmente extintos, os pequenos fabricantes já existiram em grande quantidade no país e escreveram capítulos muito interessantes na história da indústria automobilística nacional. Criatividade, ousadia e idealismo são características comuns a praticamente todos eles.
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Todos os carros esportivos do listão são legitimamente brasileiros: além da fabricação nacional, surgiram por inciativa de empresas locais. No mais, os 11 modelos da relação têm projetos originais: réplicas de veículos estrangeiros são casos à parte.
Carros esportivos brasileiros dos anos 60:
1. Malzoni GT
Esse é conhecido por quem acompanha o AutoPapo. Afinal, Boris Feldman já mostrou uma unidade ano 1967, na versão Espartana, feita especialmente para corridas. Piloto e máquina participaram do Monterey Historic Car Races, na famosa pista de Laguna Seca, EUA. Além dele, outro exemplar foi manejado por Eduardo Pessoa de Melo. É o único esportivo brasileiro que se tem notícia a competir na prova californiana.
Assista ao vídeo para conhecer ou relembrar o modelo:
O nome é uma homenagem a Genaro “Rino” Malzoni, um dos idealizadores do projeto e responsável pela produção do cupê em Matão (SP). O GT utilizava motor de três cilindros originário da DKW. O chassi era proveniente do mesmo fabricante, mas tinha o entre-eixos reduzido. Sobre ele, era instalada uma exclusiva e vistosa carroceria, com linhas inspiradas em esportivos europeus.
O Malzoni GT surgiu em 1964, disputando corridas em autódromos brasileiros. No ano seguinte, o modelo já venceu algumas provas. Um dos resultados mais expressivos foi o primeiro lugar na categoria de protótipos do Grande Prêmio das Américas, realizado em Interlagos.
A partir de 1966, foi comercializada uma versão mais sofisticada, para uso nas ruas (até então, o modelo era destinado unicamente às pistas). A aceitação foi tamanha que, naquele ano, o fabricante alterou sua razão social, dando origem ao Puma DKW e a uma nova linhagem de carros esportivos brasileiros. Mas isso é assunto para o próximo item do listão!
2. Puma GT 1.500
Qualquer automóvel produzido pela Puma é hoje objeto de coleção. Dos primeiros cupês, ainda com mecânica DKW, aos modelos GTB com motor seis cilindros de origem Chevrolet, o fabricante desenvolveu uma gama diversificada. Houve até caminhões com o logotipo da empresa, já em uma fase posterior. Porém, os mais famosos são os chamados “Puminhas”, com propulsão Volkswagen.
A história do GT 1.500, o primeiro dos “Puminhas”, começa em 1967, quando a Volkswagen adquiriu a DKW do Brasil, extinguindo os produtos da marca. A Puma, então, precisava de outra base mecânica para seus projetos. Acabou optando pelo motor com refrigeração a ar da própria Volkswagen, com 1.493 cm³ de cilindrada.
É justamente daí que surgiu o nome 1.500, que batizou um novo cupê, lançado no segundo semestre de 1967. Assim como o antecessor, ele era inspirado em esportivos europeus, principalmente italianos. Em 1970, veio um motor 1.600 e, no ano seguinte, o derivado conversível, chamado Spyder.
A gama passou por diversos aperfeiçoamentos e foi rebatizada várias vezes: os modelos GTS, GTC e AM4 são decorrentes desse processo contínuo. Porém, todos são descendentes diretos do GT 1.500 original. A Puma fez sucesso com esses pequenos esportivos e chegou a exportar seus carros autenticamente brasileiros para dezenas de países.
No início dos anos 80, porém, o fabricante começou a enfrentar dificuldades e acabou encerrando as atividades em 1985. Desde então, diferentes empresas adquiriram a marca e a relançaram, mas nenhuma dessas iniciativas foi duradoura.
3. Brasinca 4.200 GT
A Brasinca era uma fabricante de carrocerias para veículos pesados instalada em São Caetano do Sul (SP). Nos anos 60, lançou-se numa empreitada para produzir esportivos de alto desempenho. O resultado foi cupê 4.200 GT, projeto por Rigoberto Soler, um espanhol radicado no Brasil.
Para os padrões dos anos 60, o design era extremamente arrojado e agressivo. As linhas da carroceria – produzida em chapa, e não em fibra de vidro – ainda hoje impressionam, ao mesmo tempo em que causam algumas polêmicas. Enquanto alguns julgam que a Brasinca teria se inspirado no norte-americano Studebaker Avanti, outros alegam que o cupê nacional foi copiado pelo inglês Jensen Interceptor.
O nome 4.200 GT é uma referência ao motor do veículo. Como, na época, a indústria nacional não produzia nenhuma unidade de alto desempenho, optou-se pelo seis cilindros em linha originário dos caminhões Chevrolet. Para elevar a potência, comando de válvulas e carburação foram modificados. As versões mais “bravas” chegavam a render 171 cv brutos, que levavam o esportivo a ultrapassar os 200 km/h.
Lançado em 1964, o modelo foi descontinuado em 1967. Nesse meio tempo, ele chegou a ser rebatizado de Uirapuru. A renomeação ocorreu quando a produção mudou de mãos: da Brasinca, foi para a Sociedade Técnica de Veículos (STV). Menos de 100 unidades foram fabricadas, o que faz dele um dos mais raros carros esportivos brasileiros.
Carros esportivos brasileiros dos anos 70:
4. Bianco S 1600
Quem é ligado em carro certamente já ouviu falar em Toni Bianco. Ele é o criador de vários carros esportivos fora de série brasileiros e segue na ativa até hoje. Entre eles, está um dos cupês mais originais desenvolvidos no país.
O Bianco S 1600 foi lançado no Salão do Automóvel de São Paulo em 1976. O design foi moldado nas pistas: era uma evolução dos modelos fúria, que fizeram sucesso nos autódromos anos antes. O desempenho, porém, era inferior ao dos antecessores, pois foi utilizado o motor Volkswagen 1.600 a ar.
Apesar disso, consta que 180 unidades foram vendidas ainda no motorshow paulista. Em 1978, o pequeno cupê voltaria a atrair atenções em um Salão do Automóvel, dessa vez em Nova Iorque. A produção, artesanal, era pequena, mas manteve-se constante até o início dos anos 80.
A partir da virada da década, porém, o fabricante perdeu mercado. Novos fabricantes artesanais de esportivos surgiam, enquanto o novo modelo Tarpan, desenvolvido a partir do Bianco S, não fez sucesso. Apesar da trajetória curta, o modelo foi um dos mais marcantes daquele período.
5. Farus ML 929
A história da Farus diz respeito, ao mesmo tempo, a carros esportivos brasileiro e a laços sanguíneos. Afinal, a empresa, cujo nome é o acrônimo de Família Russo, foi criada pelo patriarca Alfio e o filho Giuseppe. Sediada em Belo Horizonte (MG), lançou o cupê ML (iniciais de Maria Luiza, a matriarca do clã) 929 em 1978.
Ao contrário de outros esportivos da época, o cupê utilizava mecânica Fiat, cuja fábrica, coincidentemente ou não, também situava-se em Minas Gerais. O chassi de treliça dispunha o propulsor em posição centra, solução que proporcionava ótima dirigibilidade ao esportivo. O desempenho, porém, não se destacava: o 1.3 proveniente do 147 Rallye entregava apenas 72 cv.
A Farus conseguiu se estabelecer no mercado e utilizou diferentes motores ao longo dos anos. Em 1982, era lançado o modelo TS, com propulsor 1.6 originário da versão esportiva do Passat. Dois anos mais tarde, o fabricante lançaria seu veículo mais famoso: o Beta, com uma unidade 1.8 oriunda do Chevrolet Monza. O modelo não tardou a oferecer carroceria conversível e cilindrada maior, chegando a 2.0.
Em 1986, a Farus chegou a negociar com a Chrysler a utilização de motores 2.2 norte-americanos. No ano seguinte, a marca chegou a expor seus produtos no Salão do Automóvel de Nova Iorque. A última novidade foi o esportivo Quadro, fruto de um projeto totalmente novo, que incluía a utilização de motor 2.0 Volkswagen em posição convencional, na dianteira. Em 1990, porém, com a abertura das importações, a empresa retirou-se do mercado.
6. Santa Matilde SM
O fechamento total das importações para o mercado brasileiro, em meados da década de 70, e o sucesso de carros esportivos feitos por fabricantes brasileiros foram os incentivos que faltavam para que a Companhia Industrial Santa Matilde enveredasse para o ramo automotivo. Sediada em Três Rios (RJ), a empresa fabricava implementos ferroviários e agrícolas.
Após alguns anos de desenvolvimento, a Santa Matilde começou a produzir, em 1978, um automóvel que mesclava luxo e esportividade. Batizado de SM, foi desenhado por Ana Lídia Pimentel, filha de Humberto Pimentel, dirigente da empresa. Naquele ano, o modelo foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo e atraiu dezenas de compradores.
Sob o capô, foi empregado o motor Chevrolet 4.1 de seis cilindros, que garantia bom desempenho. Em 1980, a Santa Matilde passava a oferecer unidades 2.5 também advindas do Opala, com aspiração natural ou turboalimentada. Um ano depois, um exemplar chegou a ser exposto na França. A linha crescia em 1984 com a oferta de uma configuração conversível.
O declínio do esportivo começou em 1988, quando a produção passou a ser feita sob encomenda, até cessar de vez em 1990. A marca é lembrada por ter desenvolvido alguns dos carros esportivos brasileiros com melhor padrão de construção daquele período.
7. L’Automobile Ventura
O ano de 1978 foi pródigo em carros esportivos brasileiros fora de série. Contemporâneo a outros grandes nomes nacionais, o cupê Ventura surgia com design caprichadíssimo. O visual era obra da paulistana L’Automobile, que produzia réplicas do Alfa Romeo 8C 2300 1931.
Apesar do visual invocado, o Ventura tinha mecânica simples. Era movido pelo propulsor Volkswagen 1.600 a ar, que proporcionava desempenho modesto. O ponto alto do cupê era o acabamento interno, com direito a bancos revestidos em veludo e painel forrado em couro.
Os dados de produção do Ventura são bastante obscuros. Sabe-se, porém, que os números foram baixos. O modelo foi fabricado até 1983, quando a L’Automobile fechou suas portas. A empresa chegou a ser vendida para a L’Auto Craft, mas o cupê não resistiu por muito mais tempo.
Carros esportivos brasileiros dos anos 80:
8. Adamo CRX
A trajetória da Adamo é longa em comparação a outros fabricantes brasileiros de carros esportivos. A marca, que fabricava artigos de poliéster em São Paulo, entrou para o setor de veículos em 1968, ao expor um protótipo no Salão do Automóvel na capital paulista. O primeiro produto chegou ao mercado em 1970, batizado simplesmente de GT.
Ao longo da década de 70, o fabricante apresentou outros produtos, como o GT-2 e o GTL. Todos tinham motores Volkswagen traseiros a ar. Entretanto, a Adamo parece ter chegado ao ápice nos anos 80, quando aprimorou suas técnicas construtivas e passou a utilizar propulsores refrigerados a água, também da marca alemã.
A primeira das criações da Adamo com essas características foi o CRX 1.8, de 1984. A carroceria lembrava vagamente o Porsche 924, com direito, inclusive, a faróis escamoteáveis. O motor vinha do Gol GT e desenvolvia saudáveis 99 cv de potência. No fim daquela década, surgiu o AC 2.000, com maior cilindrada.
Assim como outros pequenos fabricantes, a Adamo foi vítima da concorrência com as importadoras. Em 1990, a história da empresa chega ao fim. A marca é lembrada tanto pelo aspecto arrojado de seus veículos quanto por sua logomarca, que tinha um cavalo marinho como símbolo.
9. Miura Saga
Eis aquele que, provavelmente, é o mais extravagante entre os carros esportivos fora de série brasileiros. A Miura surgiu por inciativa dos empresários Aldo Besson e Itelmar Gobbi, que tinham uma indústria de acessórios para veículos em Porto Alegre (RS). O primeiro automóvel da marca ficou pronto em 1977. O modelo de produção foi batizado de Sport.
Na sequência, vieram o Sport II e o Targa. Na mecânica, a Miura seguia uma receita tradicional, utilizada pela maioria dos pequenos fabricantes: motor Volkswagen 1.600 a ar posicionado na traseira. Mas já em 1983 surgia o MTS, com motor 1.6 do Passat. O Saga, esportivo mais icônico da merca, foi lançado em 1984. Tinha motor Volkswagen 1.8, mas impressionava mesmo era pelos equipamentos.
O Miura Saga trazia controle remoto para destravar as portas, minitelevisor, bar, volante com ajuste elétrico, teto solar e equalizador de áudio. Mas o item mais impressionante era um sintetizador de voz com sete alertas: solicitava ao motorista que atasse o cinto ou abastecesse quando o tanque entrava na reserva, por exemplo.
O nível de desenvolvimento elevou-se no Saga II. Tinha motor 2.0, mas os destaques ainda eram os equipamentos: havia ajuste elétrico dos bancos, retrovisor eletrocrômico, lanternas com acendimento automático e até um compartimento para armas de fogo. Por fora, chamava a atenção pelo enorme vidro traseiro e pelas luzes de neon (!) nos para-choques.
Assista ao vídeo do modelo no Salão do Automóvel de São Paulo de 1988:
Em 1992, a Miura deixou de produzir carros esportivos. A empresa seguiu no mercado até 1997, transformando picapes. Exagerados a ponto de serem até espalhafatosos, os modelos que a empresa fabricou são, hoje, retratos da estética kitsch.
10. Hofstetter
Aquele que, talvez, tenha sido o mais exótico dos carros esportivos brasileiros nasceu por iniciativa de Mário Richard Hofstetter. O cupê com traços inspirados em bólidos italianos foi exibido pela primeira vez no Salão do Automóvel de São Paulo em 1984. A produção, contudo, só começou em 1986, quando o modelo foi novamente exposto na mostra paulista.
Na época, o Hofstetter destacava-se graças ao recursos tecnológicos. Os faróis eram escamoteáveis e as portas, do tipo “asa de gaivota”, abriam-se para cima. O modelo tinha enormes janelas laterais, mas apenas uma seção corrediça se abria.
O desempenho também impressionava diante dos padrões brasileiros dos anos 80. O motor era um 1.8 de origem Volkswagen, utilizado no Gol GT, mas sobrealimentado por um turbocompressor. O conjunto desenvolvia 140 cv, número espantoso para a época. Posteriormente foi adotado um 2.0, também turbinado.
O Hofstetter é uma verdadeira raridade: estimativas apontam que cerca de 20 exemplares foram construídos. Os registros sobre a produção são pouco conhecidos, mas a empresa teria se mantido ativa até 1990. Hoje, os veículos remanescentes são disputados por colecionadores.
11. Aurora 122-C
O Aurora 122-C protagonizou um verdadeiro paradoxo: apesar de ter bom desempenho, chegou tarde. Foi apresentado ao mundo no Salão do Automóvel de 1990, ano em que a abertura do mercado às importações praticamente acabaria com os pequenos fabricantes brasileiros de carros esportivos.
Há quem diga que o Aurora 122-C foi o melhor veículo fora de série já feito no país. O motor, originalmente um 2.0 Chevrolet, teve a cilindrada ampliada para 2.2. Graças a essa medida e à instalação de um turbocompressor, a potência chegou a 214 cv. A carroceria, de apenas duas portas, era inspirada da Ferrari F40.
Apenas cinco unidades, todas pré-série, foram fabricadas em 1991. O fabricante se esforçou para entrar no mercado, mas acabou não conseguindo competir com as novidades importadas. A trajetória da Aurora, cuja sede ficava em Valinhos (SP), foi precocemente encerrada em 1993.
Fotos: Divulgação
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