Entre 1976 e 1990, o mercado brasileiro permaneceu fechado às importações. Quem quisesse comprar um automóvel naquela época tinha como únicas opções os produtos dos poucos fabricantes instalados no país. Diante disso, surgiu uma verdadeira indústria de transformação e adaptação de carros, que atingiu o auge durante os anos 80.
Essas empresas atuavam em nichos, oferecendo produtos que, originalmente, não faziam parte da gama do fabricante do veículo. Assim, muitos dos carros dos anos 70 e 80 tiveram versões extra-oficiais, que tornaram-se realidade por meio de iniciativas independentes.
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O AutoPapo relembra alguns desses veículos, classificados de acordo com 7 segmentos. Para quem não viveu aquela época, é a oportunidade de conhecer algumas dessas criações; para quem vivenciou o período, fica a lembrança desses modelos curiosos. Confira o listão!
1. Conversíveis
Pelo visto, durante os anos 80 muita gente queria conduzir carros com os cabelos ao vento. Várias empresas adaptaram modelos que, originalmente, não tinham versão conversível. Um dos mais famosos foi o Fiat Uno Cabriolet, adaptado pela concessionária Sultan, de São Paulo (SP). Mas o 147 também teve configuração desse tipo, criada pela Sulam e batizada de 130 SC.
Embora a Ford comercializasse, desde 1985, uma versão conversível do Escort, outros modelos da marca foram oferecidos nesse tipo de configuração por empresas independentes. A Companhia Santo Amaro de Automóveis e a concessionária Souza Ramos, ambas da capital paulista, criaram versões sem capota de Corcel II e Del Rey.
A linha Chevrolet não ficou de fora das transformações. O Opala e o Chevette ganharam configurações conversíveis, batizadas de Summer, pelas mãos da concessionária Dipave, de Curitiba (PR). O Monza também “perdeu o teto” devido a ações das transformadoras paulistanas Sulam e Envemo: na adaptação feita pela segunda, o modelo podia receber uma dianteira ao estilo Pontiac.
Outras criações da Sulam foram o Gol e o Fusca conversíveis. O segundo, inclusive, teve a capota retirada também pela paulistana Avallone por diversas outras empresas independentes ao redor o país.
2. Targa
Determinados clientes poderiam achar a transformação em conversível radical demais, certo? Bem, algumas empresas ofereciam uma opção parcial do gênero, removendo apenas parte da capota e transformando o veículo em um targa. A maioria dessas adaptações, claro, foi feita em carros dos anos 80.
Talvez o mais famoso targa nacional tenha sido o Chevette Minuano, desenvolvido pela Envemo. O modelo seguia o desenho do Kadett Aero, versão desenvolvida pela Opel e produzida em série na Alemanha. Porém, o compacto da Chevrolet teve companhia de alguns outros pares.
Um deles foi o Fiat Prêmio, que teve carrocerias targa criadas por duas concessionárias distintas: a já citada Sultan e a Mirafiori, também de São Paulo (SP).
Na linha Volkswagen, o Voyage teve versões targa por iniciativa da Sulam e da concessionária Avel, de São Bernardo do Campo (SP). A autorizada do ABC paulista também fez uma versão desse gênero para o Passat, do mesmo modo que a Dacon.
3. Peruas
Devido à grande oferta de peruas fabricadas em série pelas multinacionais de carros nos anos 70 e 80, não foram tantas as transformações desse tipo feitas na época. Mas algumas delas existiram, envolvendo modelos que não tinham tal opção de série. O Maverick foi um desses veículos, cuja configuração sedã era transformada em station wagon pela concessionária Souza Ramos, de São Paulo (SP).
O Monza foi outro que não teve uma derivação perua feita pelo fabricante, que criou apenas um protótipo. Mas a Envemo colocou no mercado uma versão própria dessa station wagon, que podia ter duas ou quatro portas.
A quantidade de portas, inclusive, era o motivo de uma transformação feita pela Sulam: fabricado apenas com duas pela Chevrolet, o modelo ganhava quatro nas instalações da Sulam. Na verdade, a empresa utilizava como base o Opala sedã, soldando a ele o prolongamento da capota da station wagon da gama.
O Passat também teve, extra-oficialmente, uma versão perua. Duas concessionárias fizeram tal adaptação: a Besouro, do Rio de Janeiro (RJ), e a Dacon.
Houve ainda conversões no Dodge Dart e no Ford Galaxie: geralmente feitas por empresas pequenas, tais intervenções visavam transformá-los em veículos funerários. A Ford chegou a criar um único protótipo da perua Galaxie, que atuou como ambulância nas instalações industriais do fabricante.
4. Limusines
O Willys Itamaraty Executivo entrou para a história como único veículo com carroceria limusine formalmente fabricado no Brasil. Porém, contabilizando os modelos fora de série, houve mais opções, quase todas construídas com base em carros dos anos 80.
Opala e Monza foram alguns dos mais transformados em limusines, por empresas como Sulam e Envemo. Contudo, uma das mais ativas nesse segmento foi a Avallone, que desenvolveu versões alongadas não apenas para os sedãs Chevrolet, mas também para e para a linha Volkswagen Santana, incluindo a perua Quantum.
Por sua vez, a concessionária Souza Ramos construiu limusines a partir de veículos Ford. Inicialmente, a adaptação era feita com a linha Galaxie, mas posteriormente passou a tomar o Del Rey como base.
5. Picapes de cabine dupla
No fim dos anos 80, o mercado brasileiro de carros viu um novo segmento prosperar: o de picapes transformadas. As modificações mais comuns envolviam adição de cabine dupla, uma tampa para cobrir a caçamba e interior mais luxuoso. Geralmente, os enxertos eram feitos com fibra de vidro.
A maior do ramo foi a Souza Ramos, que transformavas as picapes Ford F-1000 na cabine dupla Deserter. A empresa fez ainda intervenções semelhantes na Pampa, que foi batizada de XP.
Outro caso famoso é o da Engerauto, também de São Paulo (SP) e especializada em picapes Ford. Uma das criações mais célebres da empresa é o modelo Topazzio, que na verdade era uma Pampa com grandes alterações estilísticas elaboradas pelo designer Anísio Campos. O modelo era tão modificado que ficava quase irreconhecível.
Com a linha Chevrolet, as transformações mais lembradas são as da encarroçadora paulistana Brasinca, que produzia as picapes Andaluz (cabine dupla) e Marchador (cabine estendida) a partir da D20. O caso dessa empresa é bem curioso: ela era fornecedora da GM e estampava as caçambas das caminhonetes da marca desde a década de 60.
O caso é que existiram diversas empresas em todo o país que faziam adaptações em picapes de diferentes modelos, até nas compactas Fiat Fiorino, Volkswagen Saveiro e Chevrolet Chevy 500. Outras transformadoras da época são Tropical Cabines, BrasilVan, Demec, Sid Car, Sulamericana, Libramar, Walk, Amazônia e Spocar.
6. Utilitários
As picapes nacionais não foram adaptadas apenas para ter cabine dupla. Na verdade, houve uma série de projetos baseados nelas: os mais comuns previam a integração da cabine ao habitáculo, criando um tipo de veículo que, hoje, é conhecido como SUV. Todavia, vans e até furgões foram feitos seguindo fórmulas semelhantes.
As transformadoras eram, via de regra, as mesmas que criavam as picapes cabine dupla. A Souza Ramos desenvolveu o modelo Country, e a Engerauto, a Scorpion, ambas com base na Ford F-100. Por sua vez, a Brasinca fazia a Manga-Larga (mais longa) e a Passo Fino (mais curta), semelhantes, respectivamente, à Veraneio e à Bonanza, da Chevrolet.
Algumas transformadoras elevaram o teto desses veículos para melhorar a habitabilidade, criando uma espécie de van, ao melhor estilo crossover. Uma delas foi a Furglaine, da empresa Furglass, de Guarulhos (SP), que teve inclusive uma versão furgão. A Souza Ramos desenvolveu um produto semelhante, batizado de Ibiza, também disponível na configuração furgão.
Com a chegada dos importados, a demanda por esses carros caiu drasticamente na virada dos anos 80 para os 90. Poucas empresas sobreviveram de lá para cá.
7. Cupês e fastbacks
Em menor diversidade, outras variações de carrocerias também foram adaptadas em carros durante os anos 80. Entre os convertidos, está o Passat, que ganhou uma versão cupê pelas mãos da Dacon. A concessionária oferecia variações com três volumes definidos ou com vidro traseiro envolvente, além de um sedã de quatro portas e do já citado targa.
Por sua vez, o Ford Corcel II passou pelo processo contrário: ganhou uma variação mais ao estilo fastback, no qual a capota termina em uma linha suave, integrando-se à traseira. Obra da Souza Ramos, o projeto foi idealizado por Anísio Campos e incluía uma enorme tampa do porta-malas unida ao vigia. Desse modo, o modelo era um autêntico hatch.
Como se vê, não faltaram criações curiosas feitas a partir de carros nacionais, principalmente nos anos 80. Para você, eles são aperfeiçoamentos ou gambiarras feitas a partir do modelo original? Deixe sua opinião nos comentários!
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