sábado, 29 de agosto de 2020

Tem caveira de burro na indústria automobilística?

Sabe quando nada dá certo naquela esquina? Padaria, posto, farmácia, nem sapataria. Dizem estar enterrada ali uma “caveira de burro”.

Projetos da indústria automobilística também passam por este pesadelo: começam mal e vão assim até serem abortados. E representam centenas de milhões de dólares jogados no lixo.

Caso recente foi o projeto entre Mercedes-Benz e Aliança Renault-Nissan para desenvolvimento conjunto de uma picape para as três marcas.

A plataforma básica é a da atual Nissan Frontier, com produção iniciada no México e depois também na Argentina. A Renault iria “de carona” no projeto, diferenciando-se da japonesa por detalhes na carroceria e logotipos.

A Mercedes-Benz foi além, modificando carroceria e chassis e um motor V6 (258 cv) além do básico (190 cv) que equiparia as três. A cabine da Classe X estava mais para automóvel premium que picape.

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Da fábrica argentina da Nissan, em Córdoba, viriam também para nosso mercado as três picapes. Ela iniciou a produção da Frontier em 2018, e depois viriam as outras duas.

A Mercedes iniciou a fabricação da Classe X na fábrica da Nissan em Barcelona (Espanha) em 2017. Um fracasso de vendas na Europa, pois a mais barata (R$ 250 mil) era similar à própria Frontier. A mais luxuosa, com motor V6 custava quase 40% mais (R$ 340 mil reais) por um veículo que não atrai europeus como os norte-americanos.

Mercedes-Benz Classe X: grande fracasso
Renault Alaskan: vinda incerta para o Brasil
Nissan Frontier: a única do trio que emplacou

Em maio deste ano, antes de completar três anos de produção, o projeto foi totalmente abortado, incluindo a fábrica na Argentina, que não tinha sequer iniciado a fabricação. A empresa não revela quanto, mas certamente um desfalque no caixa de mais de bilhão de euros.

A Nissan Frontier? Vai bem, obrigado, mas a Renault Alaskan, sua irmã francesa, só está confirmada para o mercado argentino, com vinda incerta para o Brasil.

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Caveira em Minas

Outra caveira de burro? Está enterrada em Juiz de Fora, onde a Mercedes teve outro considerável revés ao erguer uma fábrica para produzir o compacto Classe A em 1999. Problemas cambiais encareceram sua fabricação, inviabilizaram sua presença no mercado e teve sua produção encerrada em 2005.

Em 2001, a ociosidade da linha foi preenchida com a montagem de automóveis Classe C, até 2010, para exportação. Na falta de outra solução, adaptou a fábrica para produzir caminhões até o ano passado quando desativou a linha e passou a fabricar cabines para sua linha de pesados. A fábrica de JF é um verdadeiro “elefante branco”…

Classe A: primeiro carro feito em Juiz de Fora
CLC: também não deu certo
Hoje, fábrica em MG faz cabines de caminhão

Outra empresa que se deu mal por aqui foi a norte-americana Chrysler. O primeiro capítulo foi na década de 50, quando a Brasmotor montou alguns de seus automóveis em regime de CKD.

O segundo foi em 1967 com a compra da Simca do Brasil e durou até 1981 quando interrompeu a produção dos automóveis Dart e Polara. Ainda manteve um caminhão em linha até 1984.

O terceiro tropeção foi a  joint-venture com a BMW: associaram-se para implantar a Tritec em Campo Largo, no Paraná, fábrica para produzir motores para a alemã (Mini) e Dodge (PT Cruiser e Neon) entre 1997 e 2007, quando a BMW saiu da sociedade. Em 2008 as instalações foram vendidas para a Fiat Automóveis.

Também houve um quarto: entre 1998 e 2002 quando, como DaimlerChrysler, produziu no Paraná a picape Dakota.

dodge dakota v8
Picape Dodge Dakota: produzida no Paraná

Alfa Romeo no Brasil

Pode não ter sido caveira de burro, mas a italiana Alfa Romeo foi outra que deu com os burros n’água em solo brasileiro. Com os caminhões FNM e o automóvel JK 2000 (depois FNM 2150) produzidos em Duque de Caxias (RJ). E com o Alfa 2300, que teve morte decretada em 1986, já na fábrica da Fiat (detentora da marca) em Betim, onde foram montadas suas últimas unidades.

Além de a produção não ter dado certo no Brasil, a Fiat errou a mão também na importação iniciada em 1990 e a marca, apesar de famosa, acabou sendo enterrada (ao lado da tal caveira?) para tristeza de sua legião de fanáticos.

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Alfa Romeo 2300

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