quarta-feira, 20 de maio de 2020

Ar-condicionado precisa ‘só’ de recarga de gás? Solução não é tão simples

Quem procura um carro usado, mas bem-equipado, às vezes se depara com os seguintes dizeres em anúncios classificados: “o ar-condicionado funciona, só precisa de uma recarga de gás”.

Como tal problema é aparentemente simples de ser resolvido, o negócio pode parecer tentador se, no mais, o veículo estiver em ordem. Mas não é bem assim: provavelmente, o aparelho necessita de um serviço bem mais complexo (e caro) que o anunciado pelo vendedor.

Acontece que o gás que faz o ar-condicionado funcionar circula em um circuito selado e, por isso, se mantém constante: a necessidade de recarga é um sinal claro de vazamento.

O gás refrigerante mais comum em sistemas de climatização automotivos é o do tipo R134a, inofensivo a camada de ozônio. Ao circular por serpentinas e trocadores de calor, ele absorve as altas temperaturas do habitáculo.

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O engenheiro metalúrgico e mestre em materiais Marco Colosio, diretor da SAE Brasil, explica que o sistema de ar-condicionado automotivo é preenchido com um volume de carga de gás especificado pelo fabricante. “Quando (um vazamento de gás) é detectado, trata-se de algum componente de vedação danificado”, sintetiza.

O que faz com que os vendedores minimizem o defeito é que, mesmo quando há falta de gás no sistema, o compressor do ar-condicionado pode continuar funcionando, mas sem eficiência de refrigeração.

Nesses casos, repor o elemento refrigerante até faz com que o aparelho funcione; porém, apenas por pouco tempo. Após alguns dias, a substância terá escapado por completo. Consequentemente, o equipamento torna-se novamente incapaz de climatizar o veículo.

ligar o ar-condicionado automotivo: se ele não funcionar, recarga de gás provavelmente não resolverá
Sem gás, o compressor do ar-condicionado pode até funcionar, mas não vai climatizar a cabine

Necessidade de recarga de gás pode exigir serviço complexo no ar-condicionado

A dificuldade em estancar uma fuga de gás no ar-condicionado decorre da complexidade do sistema. É porque existem diversos pontos sensíveis a danos: “podem ocorrer vazamentos em vedações dos anéis de borracha e no condensador, nas mangueiras do evaporador ou em juntas de solda com defeitos de processo”, esclarece Colosio.

Segundo o engenheiro, material defeituoso, falta de manutenção periódica ou simplesmente o tempo de uso do aparelho são causas comuns de desgaste.

E não para por aí: o especialista da SAE aponta outras possíveis causas de defeitos no aparelho de ar-condicionado. “Também podem ocorrer falhas na válvula do ar quente, nas válvulas termostáticas do radiador, no radiador do ar quente e nos cabos de acionamento da válvula do ar quente”, adverte.

Para diagnosticar o problema, é necessário utilizar uma máquina de reciclagem de ar e também uma lâmpada ultra-violeta, capaz localizar o contraste adicionado junto à carga de gás. A assistência técnica adequada, com aparelhos específicos e mão-de obra especializada, representa custo para o consumidor.

O reparo pode incluir troca de peças e desmontagem de componentes. Desse modo, o valor varia bastante dependendo do modelo do carro e do local por onde o gás estiver vazando.

No fim das contas, o que era para ser apenas uma recarga de gás do ar-condicionado pode se revelar um serviço trabalhoso. Em geral, quanto mais complexo é o conserto, maior o prejuízo para o dono do carro.

Foto iStock

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