Qual a origem da expressão “para inglês ver”?
Entre as hipóteses, uma frase famosa do poeta inglês Lord Byron (1788-1824): “O inverno inglês, que acaba em julho e retorna em agosto”. Talvez uma alusão ao inexistente “verão” na Inglaterra. Ou seja, de acordo com Byron, só “para inglês ver”. (*)
Conterrâneo e contemporâneo de Lord Byron, James Watt (1736-1819) foi matemático, engenheiro e responsável pelo desenvolvimento do motor a vapor, decisivo para a revolução industrial que se originou na Inglaterra no final do século XIX. Seu sobrenome acabou virando unidade de potência.
Os dois ingleses acabaram se “encontrando” no Brasil, com a autoconcedida licença (poética…) das fábricas ao anunciar a potência (…) dos motores.
Uma das primeiras mentiras da lista do “m’ingana que eu gosto” foi da Vemag, ao lançar em 1964 o Fissore, sedã de duas portas. Mecânica idêntica à dos outros DKW (sedã Belcar, perua Vemaguete, jipe Candango), com motor 2T, de 50 cv. Embora muitos digam hoje ser uma tecnologia moderna, já era 1.0 de três cilindros.
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Luiz Fernandes, presidente da Vemag, foi à Itália em 1961 encomendar um projeto ao estúdio Fissore, mas não entendeu a demanda de seu marketing: esportivo, leve e aerodinâmico.
Tempos depois chegava na Vemag o molde de um pesado e nada aerodinâmico sedã que pesaria mais de 1.000 kg. E mais para luxuoso do que esportivo. Do que solicitara o marketing ao presidente, só as duas portas.
Os primeiros testes confirmaram a apreensão dos engenheiros: “raquítico” de desempenho mesmo com o motor anabolizado para render supostos 60 cv, pois pesava 100 kg mais que o Belcar.
O motor (utilizado depois também no Belcar S) tinha um ligeiro “veneno” em relação ao de 50 cv. Mas aplicado em motores cuidadosamente selecionados entre os que já rendiam uns cavalinhos a mais no dinamômetro, beirando 55 cv.
Mesmo assim o Fissore ainda desempenhava menos que o Belcar e então o competente Jorge Lettry, “mago” das preparações e chefe do departamento de competições da Vemag, fez o possível e o impossível: reduziu espessura de vidros, encurtou a relação do diferencial e outras peripécias. Mas nem assim o desempenho superava o do Belcar.
O recurso final foi apelar para a VDO, fábrica de velocímetros: “Seria possível, por obsequio, envenenar o ponteiro?”.
E com este velocímetro “especial” o carro foi lançado em 1964.
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Octanagem mágica
Outra “enganação” mais recente foi da Volkswagen em 2007, ao lançar a versão esportiva do Golf, a GTI. O motor era 1.8 turbo, de quatro cilindros, com 180 cv.
No início de 2007, um mês depois de a Honda lançar o Civic Si com 192 cv, a engenharia da VW fez das tripas coração para superar o concorrente. Mas não passava dos 187 cv, até que alguém sugeriu medir a potência com gasolina Podium. Na época, a única com octanagem RON 102/103.
Bingo! O motor rendeu 193 cv, 1 cv mais que o do Civic e abrigando o maior haras entre os nacionais. Porém, um problema: a Podium só era disponível em algumas capitais e outras poucas cidades. Na maioria dos casos, o GTI jamais teria a potência anunciada.
Outro detalhe: a Honda se manteve com elegância no episódio, jamais declarando os 195 cv do Civic Si desde que abastecido com a Podium.
Potros no navio
O Hyundai Veloster, invocado cupê esportivo de três portas, só tinha velocidade no nome, daí os apelidos jocosos como Vagaroster, Devagoster…
Sua importadora, a Caoa, anunciava potência de 140 cv no motor com injeção direta. Mas, desembarcava no Brasil com injeção indireta e mesma potência da linha HB20: 128 cv.
Foi o bastante para um jornalista (eu…) observar que nasciam 12 potros no navio, entre o embarque na Coreia e desembarque no Brasil…
(*) Outra hipótese: o Brasil assinou um tratado com a Inglaterra em 1831 comprometendo-se a abolir a escravidão. E publicou uma lei nesse sentido, que só foi respeitada em 1888. Até então, a lei era só “para inglês ver”.
Fotos: Divulgação
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