A legislação que passou a valer em janeiro deste ano foi muito clara: todos os carros comercializados no Brasil devem ser equipados com cintos de três pontos e apoios de cabeça para todos os passageiros, inclusive no meio do banco traseiro. E pelo menos um engate Isofix para cadeirinha infantil. Até dezembro de 2019, a exigência dos cintos de três pontos e apoios de cabeça se restringia aos lugares laterais.
Para cumprir a nova determinação, a Volkswagen do Brasil deparou-se com um problema: o up!, projetado na Alemanha para quatro passageiros, só tinha dois cintos de três pontos e apoios de cabeça no banco traseiro.
Entretanto, o modelo produzido no Brasil tinha sido homologado para cinco ocupantes. A fábrica adaptou então um encosto de cabeça e um cinto de dois pontos no meio do banco traseiro e estávamos conversados, pois era o que exigia a legislação vigente.
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E agora José?
Inserir o engate Isofix nos modelos produzidos a partir de janeiro de 2020 não é complicado nem exige grandes investimentos no up! Mas a conversa é outra ao se analisarem os custos de reformular o projeto para incluir mais o terceiro ponto de fixação do cinto de segurança.
Problema que deve ter provocado discussão em São Bernardo do Campo, pois o VW up! não terá vida longa no nosso mercado, apesar de um exemplo de modernidade e de projeto bem elaborado.
Mas sua plataforma não é a nova MQB utilizada por todos os novos modelos da marca no mundo, o que encarece sua produção. Além disso, o up! ficou meio perdido na trinca de modelos compactos da marca, alinhando no mesmo segmento disputado pelo Gol e Fox.
A conclusão da Volkswagen foi de investir nos outros dois, que vendem bem, obrigado, e desistir do up! a médio prazo. Mas, como manter sua produção por mais alguns meses sem os investimentos exigidos pela legislação?
Simples: a Volkswagen foi ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran), mudou a homologação do VW up! de cinco para quatro passageiros e se safou da exigência de oferecer o terceiro cinto de três pontos. E ainda economiza alguns tostões retirando o cinto central de dois pontos. Brilhante ideia, não?
Tiro pela culatra
O raciocínio da Volkswagen? Não vai perder vendas pois, embora o carro seja agora homologado oficialmente para motorista mais três passageiros, ninguém vai dar pelota (nem terá notícia disso), ou deixar de comprá-lo por esta restrição.
A maioria dos motoristas sequer perceberá a falta de cinto de segurança no meio do banco traseiro.
Essa informação só vai constar no documento do Detran, onde se registra a capacidade de passageiros. Finalmente, alguma concessionária vai correr o risco de perder vendas ao alertar o freguês para o problema?
Além disso, é óbvio que nenhum policial vai parar todos os VW up! para conferir se foi fabricado em 2020 e multá-lo caso esteja irregular, com cinco passageiros.
E mais: numa maquiavélica estratégia, inclusive navegando na onda da queda de vendas provocada pela pandemia, a fábrica vende até hoje unidades produzidas no ano passado.
Uma concessionária, consultada, levantou a hipótese de a VW ter preparado um superestoque no final de 2019, suficiente para todo o primeiro semestre de 2020. Ou outra artimanha qualquer. E a fábrica já avisou que vai “pular” a série 2020/2020, passando direto para a 20/21.
No frigir dos ovos, a legislação que pretendia exigir mais segurança para os passageiros do banco traseiro a partir de janeiro deste ano, acabou tendo efeito contrário no caso do VW up!.
A VW reagiu com “esperteza” mudando sua homologação e ele agora não conta sequer com o cinto de dois pontos no meio do banco que existia no passado.
Veja também: é possível adaptar cinto de três pontos e apoio de cabeça?
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